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Ontem, na frutaria, dei fé de um fruto novo que desconhecia: baga de goji. É parecida com a uva-passa, mas avermelhada. Tive curiosidade em saber o que seria e descobri que está em grande voga, possuindo, segundo consta, inúmeras qualidades medicinais. Entre outras coisas, retarda o envelhecimento, protege contra doenças cardiovasculares e inflamatórias, actua no sistema imunitário e no processo digestivo, ajuda a combater a artrite, o colesterol, a diabetes, as cataratas, e não sei mais que moléstias da visão, e já agora da audição, fortalece uma catrefada de coisas, entre elas, os ossos, o fígado e os rins, tem ainda propriedades anticancerígenas e, como não poderia deixar de ser, aumenta a libido e o desempenho sexual. Quando a esmola é grande...
Há uma frase muito conhecida do António Silva no filme O Leão da Estrela. Ele vira-se para um primo rico, tira-lhe um charuto e diz: «O que é meu é meu, o que é teu é nosso». Paulo Portas resolveu agora parafrasear, dizendo ao Passos Coelho: «O que é mau é teu, e o que é bom é nosso».
Quando penso em alguém com quarenta anos, imagino-o com os olhos da minha infância, ou quando muito da adolescência. O mesmo diria de outra idade mais avançada. Por muito que queira, não consigo enquadrar-me nessa imagem, apesar de já ter 42. Não consigo. Abstraindo, ainda que muito vagamente, o que possa significar ser quarentão, eu certamente que não me vejo com as características adequadas, para o bem e para o mal. E o mesmo se passa quando olho para amigos meus desta idade. Mas ontem cruzei-me com um contemporâneo meu de escola, com quem tenho consciência de ter convivido ocasionalmente, e pensei para mim que ele parecia que tinha mesmo 40 anos. As roupas, o olhar, o passo, enquadrava-se tudo nessa imagem.
É sempre a mesma história, a culpa é do clima. Jared Diamond fala muito disto em The Third Chimpanzee. Há uma tendência para acreditar em coincidências e justificar as extinções com as alterações climáticas. Foram as alterações climáticas que exterminaram inúmeras espécies na Nova Zelândia, exactamente quando o Homem acabava de lá chegar. E são elas também que explicam o desaparecimento dos mamíferos de grande porte, entre outras espécies, na América, no período imediatamente posterior à descoberta deste continente pelo Homem. Em todas estas situações de extermínio, e em outras semelhantes, o Homem por coincidência acaba de chegar, mas a culpa, vem-se a descobrir, nunca é dele. Há sempre uma alteração climática para nos absolver.
As procissões intrigam-me. Não se percebe que interesse têm, mas estão aí para durar, porque as pessoas gostam. O que é que significa gostar são outros quinhentos, porque o que se vê são pessoas aborrecidas a pasmar para o cortejo.
Fez ontem 25 anos que o Zeca Afonso morreu. Não pude aqui escrever nada, nem tenho muito para dizer, apenas que o Zeca foi para mim um dos maiores génios da música popular, seja ela portuguesa ou mundial. E quem me conhece sabe que não sou nada nacionalista nos gostos artísticos. O resto, a vida pessoal dele, as opções políticas, independentemente do que se possa pensar, em nada beliscam o músico, embora eu saiba que para ele, Zeca Afonso, as águas não estavam assim tão separadas. A mim não me interessa, ele usou a música para lutar por um ideal; o meio pode não dizer muito a muita gente, mas o resultado sim.
Há uns dois anos ouvia-se dizer uma ou outra vez em fóruns mediáticos que a crise era coisa criada pela cabeça das pessoas. Será que nos dias de hoje ainda haverá alguém que acredite neste profundo disparate?
O álbum Born to Die acaba por ser um pouco decepcionante na medida em que as novas canções estão uns furos abaixo das que já se conheciam. Sobretudo desagrada-me em algumas destas canções aquela sensação de déjà vu no desenho melódico da voz. De qualquer modo, o disco tem ainda muita coisa boa e grandes canções. Lana Del Rey tem um estilo pousado e grave e uma voz de mulher madura que aprecio muito. Já não aguentava mais estas cantoras tão em voga com vozinhas de adolescentes atrevidas.
Assustei-me quando apareceram as primeiras imagens do filme. Vão ser duas horas dolorosas, pensei. E assim foi. Saí de lá amarfanhado. O filme é brilhante na medida em que é insuportável, na medida em que inspira aversão, na medida em que o odiamos. Que ninguém pense ir vê-lo para passar um bom bocado, para se distrair.
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